quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A loucura sob o velho prisma

Victor Hugo e o Espiritismo

        O jornal francês Libération publicou, há tempos, matéria relativa ao envolvimento do grande gênio literário da França com o espiritismo, enfocando os fenômenos das mesas girantes ocorridos na ilha de Jersey, no Canal da Mancha, quando do exílio do extraordinário beletrista.  Os fenômenos começaram quando chegou à ilha a Sra. Delphine de Girardin, “ancienne muse de la Patrie”, trazendo do continente a novidade, que já era moda nos salões chiques de Paris.  “Teria o grande Hugo enlouquecido, aos 52 anos de idade?  A atmosfera viva do aequipélado anglo-normando teria provocado nele um delírio teológico?”, pergunta o articulista, ao tomar conhecimento do Livre des Tables, publicado em 1923, muito tempo após a morte de Hugo, e onde ele descreve parte do ocorrido em Jersey.
        A análise publicada pelo prestigioso diário francês mostra como o ser humano continua cético e distante das coisas do espírito.  O fato descrito no artigo jornalístico é de conhecimento público, consta de todas as biografias hugonianas e não tem absolutamente nada de extraordinário.  O fenômeno das mesas girantes, ou mesas falantes, ou mesas comunicantes, como se queira dizer, era muito comum nos anos 50 do século XIX.  E foi através dele que o Codificador, Allan Kardec, foi levado ao estudo das manifestações dos Espíritos e à elaboração das cinco obras básicas do Espiritismo, além da Revista Espírita e outros textos deixados por ele ao desencarnar.
        Igualmente, o encontro do Grande poeta e escritor francês com a Sra. Delphine de Girardin vem descrito por J. Malgras, em Os Pioneiros do Espiritismo, que reproduz parte das sessões mediúnicas realizadas na ilha de Jersey.  Ela foi uma escritora de renome, no cenário cultural francês do séc. XIX, e seu salão era frequentado por grandes estrelas literárias, como Théophile Gautier, Honoré de Balzac, George Sand, Alexandre Dumas, pai, Alfred de Musset, Alphonse de Lamartine e o próprio Victor Hugo, entre outros, além do compositor de música erudita Franz Liszt.  Ela chegou a Jersey no ano de 1853 e ali ficou por uns poucos dias, o suficiente para iniciar Victor Hugo no contato com a espiritualidade e permitir-lhe comunicar-se com o Espírito Léopoldine, filha muito amada do escritor, desencarnada em 1843 juntamente com seu marido, num naufrágio.
        O grande literato e poeta, dramaturgo e homem público, acadêmico e intelectual, que escreveu dezenas de obras, entre elas Les Misérables e Notre-Dame de Paris, é considerado um dos maiores gênios da literatura francesa de todos os tempos.  Era reconhecido e admirado pelo povo francês e seu funeral foi seguido pelas ruas de Paris por mais de dois milhões de pessoas.  Eis o porquê do inconformismo do articulista do Libération, que ignora, certamente, que os outros grandes ícones da literatura francesa, que frequentavam o salão da Sra. de Girardin, acima citados, tinham lá também sua intimidade com os Espíritos.  E o que dizer dos eminentes homens de ciência, como Gabriel Delanne, Camille Flammarion, Charles Richet e Gustave Geley? Como entender o interesse do Coronel Albert de Rochas pelos fenômenos paranormais e pelo Espiritismo?
        Enfim, que mal há em ser médium, ou comunicar-se com os Espíritos, se isso é a coisa mais natural de todas as culturas do mundo, em todas as épocas.  Sabe, acaso, o articulista que o Codificador da doutrina foi um grande pedagogo, discípulo de Pestalozzi, e que o Espiritismo nasceu e floresceu justamente na capital cultural do mundo, a sua Paris, em meados do séc. XIX?  Sabe ele que o movimento espírita colocou figuras muito ilustres da sociedade parisiense da época em torno daquela mesma espécie de mesa?  Certamente não!  Daí sua crítica acerba, seu inconformismo, sua ignorância... 
        Esse procedimento, porém, não é um privilégio da imprensa francesa, que trata assim com desprezo e preconceito um dos maiores vultos da literatura mundial.  O jornal cearense “A República”, que circulou no dia 13 de abril de 1900, assim se referiu em face da morte de um dos mais proeminentes filhos da terra, o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, que desencarnara dois dias antes, no Rio de Janeiro, sendo uma figura de grande destaque no cenário nacional:
          “...  Espírito lúcido, com a melhor educação acadêmica, todavia, não deixou de ter as suas quedas.  Da escola ultramontana, em princípio, foi descendo na escala das crendices humanas, até declarar-se espírita, nos últimos dias da sua existência, já materialmente enfraquecida pelos insultos da idade, logo intelectualmente decaída.”
        Naqueles tempos, de fato, o Espiritismo era visto como uma doutrina do demônio, prática de ignorantes, crença desprezível e genericamente enquadrada como crime pelo Código Penal da República.  Além do que, a Doutrina ainda não tinha conquistado o respeito de toda a nação e de todos os segmentos da sociedade brasileira, como acontece hoje em dia.  O forte poder da Igreja Católica daqueles tempos provocava reações apaixonadas de uma grande fatia da população do país, e influia decisivamente na imprensa nacional.
        Por isso, acreditava-se que o Espiritismo, a par de “ser” uma prática proibida por Moisés, há mais de 3.000 anos (Dt 18:10-11), era capaz de produzir a loucura nos praticantes da mediunidade.  Todavia, o próprio Kardec esclarece que a loucura advém mais de uma tendência que o indivíduo traz consigo e menos de qualquer crença a que se dedique o médium:
        “Não produziria mais do que qualquer outra coisa, quando a fraqueza do cérebro não oferecer predisposição para isso.  A mediunidade não produzirá a loucura, se esta não existir em germe.”  (L.M., item 221, p. 5)  
        A verdade é que o preconceito contra o Espiritismo já foi muito mais acentuado do que o é na atualidade.  Que o diga Sir William Crookes, ele mesmo um cético que resolveu estudar o fenômeno mediúnico para provar que era uma fraude.  Cientista britânico de primeira linha, porém, acabou por converter-se à Doutrina, após exaustivas experiências e estudos.  A sociedade científica do Reino Unido, após a declaração pública do grande expoente da química e da física da época, cogitou que deveria cancelar sua filiação à Royal Society, o que não se verificou.
        Muitos anos após o incidente, numa entrevista à The International Psychic Gazette, o laureado cientista, descobridor do elemento químico tálio, declararia:  “Nunca tive jamais qualquer ocasião para modificar minhas ideias a respeito.  Estou perfeitamente satisfeito com o que eu disse nos primeiros dias.  É absolutamente verdadeiro que uma conexão foi estabelecida entre este mundo e o outro.”  Talvez por essa razão nunca tenha sido agraciado com o Prêmio da Fundação Nobel, de Estocolmo, o que certamente ainda mais o engrandeceu como Espírito.
        Por razões semelhantes, outras figuras notáveis do mundo das ciências terrenas, como Alfred Russel Wallace, naturalista, geógrafo, biólogo e antropólogo, Oliver Joseph Lodge, físico e escritor, Lord Rayleigh, matemático e físico, todos britânicos, e o norte-americano William James, psicólogo, filósofo e com formação em medicina, foram bafejados pelo preconceito dos seus pares, a despeito de suas grandes produções no âmbito científico.
        Albert Einstein teria dito certa vez que é mais fácil dividir um átomo do que quebrar um preconceito.  Ele mesmo, por sua religiosidade e visão racional de Deus, é tido como um místico, assim como Carl Gustav Jung e muitos outros.  O grande cientista alemão, porém, disse certa vez que “no campo daqueles que procuram a verdade, não existe nenhuma autoridade humana.  Todo aquele que se fizer de magistrado encontrará imediatamente a risada dos deuses.”  Sábias palavras, pois o próprio Mestre Jesus foi claro ao dizer:  “Não julgueis para não serdes julgados;  porque com o juízo com que julgardes sereis julgados”...  (Mt 7:1).  "Magister dixit!"


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sexo e Vida

O SEXO SEGUNDO O ESPIRITISMO

 
                   Falar do sexo ou da sexualidade, sem se sentir incomodado pelo despertar de experiências atávicas, havidas nos tempos mais remotos em que o homem ensaiava para a racionalidade, agindo quase que totalmente sob o império de impulsos primários, ou sem manifestar alguma contrariedade pelos distúrbios e anomalias que o maculam, é um exercício de equilíbrio e bom senso, e um sinal de elegância e sabedoria.

                   O tema é dos mais palpitantes,  embora o homem poucas vezes o aborde com nobreza, dado o seu grau de comprometimento com a respectiva problemática.  E se os ecos daquelas experiências dormitam nos abismos do nosso inconsciente, cada vez mais distantes da nossa realidade presente, ainda permanecemos atrelados às energias instintivas de que somos indiscutíveis portadores, de tal sorte que, evolutivamente falando, pouco avançamos nesse delicado campo, desde os reinos inferiores da Natureza até os dias atuais.

                   Afinal, o que é o sexo?  Como o ser humano o vê?  Que problemática ostenta?  É o sexo pecado?  Qual a sua finalidade?  Os Espíritos têm sexo?  Eles se reproduzem?  Como devemos encarar suas anomalias?  O que é normal, o que é anormal, do ponto de vista espírita?  Pode-se dizer de fato que “a carne é fraca”?  Deus criou Espíritos masculinos e Espíritos masculinos?  Quem são os Espíritos que encarnam como homens e como mulheres?  Estas são algumas das questões que procuraremos responder ao longo desta ligeira abordagem espírita.  

                   Emmanuel, em “Sexo e Vida”, cap. I, ensina que “sexo é espírito e vida, a serviço da felicidade e da harmonia do universo”.  De início já observamos que o sexo não é de natureza física, corpórea ou material.  Ele é espiritual na sua essência e espiritual na sua finalidade.  Por isso, André Luiz, em seu magnífico “Evolução em Dois Mundos”, cap. XVIII, esclarece que “a sede real do sexo não se acha, dessa maneira, no veículo físico, mas sim na entidade espiritual, em sua estrutura complexa”, para arrematar logo a seguir que “o sexo é, portanto, mental, em seus impulsos e manifestações, transcendendo quaisquer impositivos da forma em que se exprime...”

                   Portanto, o homem comete erro básico ao ligar o sexo, assim como o erotismo e as práticas sexuais, exclusivamente à zona genital, orgânica, fisiológica.  É através dela, porém, que ele se manifesta de modo evidente, no dia-a-dia da experiência humana, haja vista o seu caráter reprodutivo.  Joanna de Ângelis, nesse aspecto, nos diz que, “fonte de vida, o sexo é o instrumento para a perpetuação da espécie, não sendo credor de qualquer condenação.  O ultraje e a vulgaridade, a nobreza e a elevação amorosa mediante as quais se expressa, dependem do seu usuário e não da sua função em si mesma.”

                   Em “Após a Tempestade”, cap. 6, ela dirá mais:  “Santuário da procriação, fonte de nobres emulações e instrumento de renovação pela permuta de estímulos hormonais, a sexualidade tem sofrido a agressão apocalíptica dos momentos transitórios da regeneração espiritual que se opera no planeta”.  Aqui, ela pinta o quadro real da atualidade do mundo em que o homem desfigura completamente a função do sexo, banalizando-o e embrutecendo-o ao extremo por praticá-lo sem a dignidade do amor.  Que o sexo gera prazer igualmente, não há dúvida, mas não esse prazer vulgar que mantém o homem ainda tão próximo da animalidade.  Praticar o sexo apenas para sentir-lhe o prazer fugaz é apequená-lo ou subestimá-lo.

                   Aviltado e distorcido em seu valor intrínseco, o sexo transformou-se no “Cabo Horne” de nossas experiências cotidianas, o mar proceloso da epopéia multimilenar do homem, onde costumam soçobrar as naus encantadas de nossos sonhos e fantasias mais acalentadas, com longos períodos de frustração, desalento e desarmonia, por comprometer nossa estrutura perispiritual, a par de proporcionar aqueles fugazes e naturais momentos de prazer físico.   

                   Criado para as emoções superiores na construção das nossas vidas, o sexo é fator decisivo na execução do processo reencarnatório dos Espíritos.  Jorge Andréa, em “Forças Sexuais da Alma”, cap. V, lembra que “o contato sexual, desenvolvendo energias imensas entre os cônjuges, de suas muitas finalidades teria o fim precípuo da atração do Espírito reencarnante”.  Ao apresentar-se para a nova experiência, o Espírito traz consigo toda a sua carga de créditos e débitos, na visão cármica da realidade.  Com isso, destacam-se suas tendências e a problemática que ostenta no campo do sexo. 

                   André Luiz, já citado, em “No Mundo Maior”, cap. XI, reitera o ensinamento de que “a sede do sexo não se acha no corpo grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização”.   Por isso, quando nos deparamos com os desajustes de quem quer que seja, na área sexual, devemos nos reportar acima de tudo ao Espírito para encontrar-lhe a causa real, e não à organização física através da qual ele se manifesta.  “Sabemos hoje com segurança que a sexualidade é um sistema de polaridade não adstrito à forma específica do aparelho sexual” (em seu duplo modo de manifestar-se:  masculino e feminino), diz J. Herculano Pires, em “Mediunidade”, cap. VIII.

                   Em verdade, Deus não cria Espíritos masculinos e Espíritos femininos em separado, ou seja, não há Espíritos e Espíritas.  Deus cria todos iguais, com a bissexualidade em potencial.  Por isso, os Espíritos disseram, em O Livro dos Espíritos, perg. 201, “são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres”, ensinamento reiterado na perg. 822 da obra principal da Codificação Espírita.  Para isso, pesam as tendências, acentuadamente masculinas ou femininas, adquiridas ao longo das experiências multimilenares de cada um. 

                   Damos, aqui, a palavra ao Espírito Manoel Philomeno de Miranda, no prefácio de “Sexo e Obsessão”, onde ele diz que, “assexuado, o Espírito renasce numa como noutra polaridade, a fim de adquirir experiências e compreensão de deveres, que são pertinentes a ambos os sexos.  A intrepidez masculina e a docilidade feminina são capítulos que dão ao Espírito equilíbrio e harmonia”.

                   Isso significa que um Espírito não permanecerá sempre como o ser masculino ou o ser feminino que o caracterizam num dado momento da sua caminhada evolutiva.  Contudo a mudança de sexo não se constitui numa escolha aleatória ou caprichosa do indivíduo, mas se dará sempre na medida da necessidade de aprendizado de cada um, seja por imposição evolutiva, seja por razões cármicas e decorrentes do mau uso dessa força em suas passadas existências.  No mundo espiritual, despojado da matéria mais grosseira e limitadora, o ser possui maior capacidade de avaliação e escolha, planejando as suas encarnações mesmo com as dificuldades que lhe sejam mais favoráveis, prescindindo das ilusões do mundo e dos enganos próprios do homem.

                   Emmanuel, encarecendo o valor do sexo, diz-nos o que o seu exercício impõe:  “O sexo se define, desse modo, por atributo não apenas respeitável mas profundamente santo da Natureza, exigindo educação e controle”  (Vida e Sexo, cap. 1).  Até que se chegue a esse nível de nobreza, todavia, o ser atravessa a “selva selvaggia” dos maus hábitos e abusos, transformando a questão sexual muitas vezes em sua pedra de tropeço, a exigir correção e aperfeiçoamento.  É assim que, de equívoco em equívoco, de disvirtuamento em disvirtuamento, incorremos nas anomalias, desvios, distúrbios, distonias e aberrações do sexo, que acabam por revelar o estado em que nos encontramos na árdua linha da ascensão espiritual.

                   As ciências humanas costumam formar os conceitos de normalidade e anormalidade em cada campo de sua atuação.  No entanto, esses mesmos conceitos têm um valor puramente relativo em relação ao Espírito, que é herdeiro de si mesmo, de sua grandeza ou de sua inferioridade, ostentando problemática temporária e corrigível. Por isso, as denominações em geral são exclusivamente humanas.  Temos, então, relacionado com as formas de manifestação do sexo, heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e assexualidade.  Joanna de Ângelis, ao comentar essa classificação, diz que “transexualidade ou homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade e assexualidade que se exteriorizam no campo da forma ou nas sutis engrenagens da psique têm suas nascentes e funções nas tecelagens do espírito.”  (Estudos Espíritas, cap. 6).

                   Dentro desse quadro genérico e bastante amplo, o Espírito ostenta uma problemática vasta e bem definida pelas ciências do homem, de acordo com as características específicas de comportamento que apresenta na vida de relação.  É assim que, no quadro dos distúrbios sexuais, temos o narcisismo, o erotismo, o fetichismo, o pigmalionismo, o exibicionismo, o voyeurismo e a ninfomania.  No âmbito das consideradas anomalias do sexo, despontam a prostituição, o sadomasoquismo, a necrofilia, a pedofilia, a sodomia, o vampirismo e o bestialismo.  Dentre as psicopatologias, encontram-se o complexo de édiplo, o complexo de electra, a coitofobia, o incesto, o complexo de cinderela e o complexo de peter pan.  Como distonias, classificam-se o intersexualismo, o transexualismo e o homossexualismo.  Os casos em que o indivíduo apresenta uma duplicidade de caráter são o hermafroditismo, o transexualismo, o intersexualismo e a androginia.  Já os casos cirúrgicos denominam-se orquidectomia, transgenitalismo e implante.  Contudo, todas essas denominações não esgotam o elenco de problemas envolvendo a sexualidade humana.

                   Manoel Philomeno de Miranda, na obra já citada, diz que “desvios sexuais, aberrações nas práticas do sexo, condutas extravagantes e desarticuladoras das funções estabelecidas pelas Leis da Vida, geram perturbações de longo curso, que não se recompõem com facilidade, senão ao largo de dolorosas reencarnações expungitivas e purificadoras”.  Daí o quadro complexo de problemas vividos pelo homem no mundo, de etiologia muitas vezes obscura aos olhos dos profissionais mais categorizados.  Afrontando as leis naturais, o Espírito sujeita-se a todo um cenário de dores e frustrações que lhe transtornam o existir.  Como encarar o problema?

                   Em “O Homem Integral”, cap. 7, Joanna de Ângelis assevera que “os problemas sexuais, por isso mesmo, devem ser enfrentados sem hipocrisia, nem cinismo, fora de padrões estereotipados por falsa moralidade, tampouco levados à conta de pequeno significado.  São dificuldades, e, como tais, merecem consideração, tempo e ação especializada.”  Portanto, qualquer que seja a problemática enfrentada, deve o indivíduo aprender a lidar com ela da forma mais nobre e adequada às suas necessidades de aprendizado e correção, consciente de que é o único artífice da sua felicidade ou infelicidade.  A reencarnação é apenas a oportunidade bendita de equacionar a problemática trazida do passado dentro de um novo contexto.

                   Jorge Andréa, na obra já citada, cap. V, lembra que “o sexo é organização específica por onde os mecanismos de sublimação podem dar-se e, também, por onde o amor favorece os impulsos que buscam sempre o equilíbrio das emoções.”  O sexo é uma das grandes forças da alma, assim como a vontade e o sentimento, por exemplo, que Deus outorgou ao ser inteligente da Criação para servir de canal às suas grandes realizações, à transcendência e ao aperfeiçoamento.  Logo, deve ser utilizado de forma correta e na medida exata das exigências de cada experiência.  Se um indivíduo encarna em corpo masculino, embora trazendo os traços da feminilidade que o caracterizaram por um tempo imensurável, deve procurar adaptar-se ao novo corpo que ele mesmo produziu e não conformar o corpo à sua mentalidade por meio das técnicas cirúrgicas disponíveis na atualidade, como no caso do transexualismo.

                   O sexo é uma força natural, portanto, que nada tem de pecaminoso.  O conceito de pecado, aliás, ligado ao sexo, é de origem puramente religiosa, criado para manipulação das consciências e alimentação do sentimento de culpa, que tão facilmente emerge no Espírito imperfeito que ainda somos.  Os Espíritos, na verdade, não têm sexo como nós o entendemos, pois ele depende de uma condição orgânica (L.E., perg. 200), que somente o homem possui.  E não têm essa espécie de sexo, orgânico, instrumental, genital, pois que ele é inútil na erraticidade.

                   Reportando-se a essa condição, Kardec ensina que “os sexos só existem no organismo.  São necessários à reprodução dos seres materiais.  Mas, os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão porque os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.”  (Rev. Esp., janeiro de 1866, p. 3).  É isso, com outras palavras, o que está dito na perg. 822 do L.E. já citada.  Portanto, não se pode pensar em práticas sexuais entre os Espíritos, da mesma forma que as há entre os homens.  “O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito”, diz o E.S.E., cap. XIV, n. 8.  
                    A benfeitora Joanna de Ângelis acentua que “o corpo produz o corpo, que é herdeiro de muitos caracteres ancestrais da família, que sofre as ocorrências ambientais, mas só o Espírito produz o caráter, as tendências, as qualidades morais, as realizações intelectuais, o destino...” Como imaginar, assim, que haja casamento, ato sexual, gravidez ou até aborto no mundo espiritual?  Esses conceitos seriam no mínimo anti-doutrinários.

                   Ademais, consoante já dito, “não existe diferença entre o homem e a mulher, senão no organismo material, que se aniquila com a morte do corpo.  Mas, quanto ao Espírito, à alma, o ser essencial, imperecível, ela não existe, porque não há duas espécies de alma.” (Kardec, in Revista Espírita citada, p. 4).  O que isso tem a ver com a homossexualidade, que se caracteriza basicamente pela tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo e não tem uma explicação plausível em face das correntes psicológicas do mundo, de caráter essencialmente materialistas?  Teria ela origem nessa igualdade entre os Espíritos?  Absolutamente, não.

                   A homossexualidade, em verdade, “é a mais severa de todas as distonias, seja pelas causas, seja pelas consequências imediatas e de longo prazo que acarretam”, diz Francisco A. Gabilan em “Macho, Fêmea etc.”, cap. 15.  Somente a lei da reencarnação é capaz de explicar o fenômeno, mostrando que não se trata de uma anomalia da Criação divina.  Sendo o Espírito um ser in itinere, uma “individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice-versa”, diz Emmanuel em “Vida e Sexo, cap. 21, manifesta sempre as características mais marcantes do seu caráter, independentemente do corpo que ostente num dado momento.

                   Por outro lado, aquele que abusa das suas energias genésicas, causando dor e sofrimento, traumas e desespero, destruição e morte a todos aqueles que lhe cruzam o caminho, vê-se na contingência de passar por experiências no corpo morfológico masculino ou feminino, oposto às suas características de comportamento, para proceder ao reajuste dos seus próprios sentimentos.  Assim também, os que se candidatam a uma existência missionária, e que trazem características acentuadamente masculinas ou femininas, podem pedir aos seus instrutores espirituais que os assistam no planejamento da sua própria encarnação, ocultando-se num corpo carnal de polaridade diferente daquela que os distingue, de modo a não “caírem em tentação”.  Por isso, sabemos que não é a carne que é fraca, mas o Espírito, com suas tendências e imperfeições.  Em tudo e por tudo, o Espírito que ostenta a problemática é o único responsável por ela.  Não se pode, por isso, dizer que um indivíduo é homossexual, por exemplo, devido à influência espiritual de que seja suposta vítima...

                   Enfim, Joanna de Ângelis ensina, com muita sabedoria, que “sexo, em si mesmo, sem os condimentos do amor, é impulso violento e fugaz”, em “Amor, Imbatível Amor”, cap. 1, que transtorna a vida do próprio amante, antes de macular a do outro.  Por isso, “educar o sexo, mediante conveniente disciplina mental é o desafio para a felicidade, que todos enfrentam e devem vencer.”, diz ela em outra página memorável, in “Dias Gloriosos”, cap. 14.  O sexo é, e será sempre, uma força criadora, modeladora e enriquecedora da alma, que exige educação e respeito, ética e responsabilidade, para que dê os frutos mais preciosos e estimulantes.

                   Somente à luz da Doutrina Espírita, a sexualidade conquista o seu nobre valor, por destacar-se a sua origem:  o sexo localiza-se no Espírito e não na aparelhagem genital, na força hormonal ou na carga energética do indivíduo...

                   Lembrando, na Introdução do “Vida e Sexo”, que “a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um”, Emmanuel arremata o seu estudo com estas palavras sábias:

                   “Se alguém vos parece cair, sob enganos do sentimento, silenciai e esperai!  Se alguém se vos afigura tombar em deliquência, por desvarios do coração, esperai e silenciai!...

                   Calai os vossos possíveis libelos, ante as supostas culpas alheias, porquanto nenhum de nós, por agora, é capaz de medir a parte de responsabilidade que nos compete a cada um nas irreflexões e desequilíbrios dos outros.”  (cap. 26).


domingo, 14 de agosto de 2011

Doutrina Evolucionista


Muito Além de Darwin



          A partir das pesquisas e dos estudos de Charles Darwin, encontrou-se uma explicação científica para a evolução das espécies na Terra, desde os seres mais simples, os unicelulares, os primeiros a surgirem no planeta, até o homem, o mais complexo de todos, corolário dessa saga extraordinária iniciada há mais de 3,5 bilhões de anos.  A ciência, porém, não tem resposta para todas as questões que envolvem a teoria evolucionista, em primeiro lugar.  Ademais, só considera a evolução material, física, corpórea, como base inclusive para explicar a evolução comportamental, moral, psíquica.

          Quando se trata do homem, seu surgimento, segundo a teoria mais ampla, remonta a cerca de 5 milhões de anos.  E é voz corrente ter se originado de um ramo dos símios, que gerou antropóides e daí o homem.  Pensa-se, por isso, que um dia “desceu da árvore”, hábito encontrado entre os seus ancestrais. Contudo, apesar dos inúmeros elementos de análise encontráveis nos laboratórios e nos livros dos cientistas da atualidade que cuidam dessa questão, a resposta definitiva ainda não foi apresentada pela ciência do mundo, desde que não se consegue encontrar o chamado “elo perdido”, que explicaria, segundo se pensa, como o macaco se transformou em homem.

          Dois anos antes do lançamento de “A Origem das Espécies”, de Darwin, veio à luz do mundo, em 18 de abril de 1857, “O Livro dos Espíritos”, que representou os alicerces do edifício da codificação espírita, por obra e gênio de Allan Kardec, fundamentado nas revelações da plêiade do Espírito da Verdade, prometido por Jesus.  Surgia assim a Doutrina Espírita, de caráter essencialmente evolucionista, que veio para servir de auxiliar à ciência e à religião.

          Posteriormente, em “A Gênese”, cobertura daquele edifício, publicado no ano de 1868, Kardec diria:  “O Espiritismo e a ciência se completam um pelo outro;  a ciência, sem o Espiritismo, se acha impossibilitada de explicar certos fenômenos, unicamente pelas leis da matéria;  o Espiritismo, sem a ciência, ficaria sem apoio e exame.”  Décadas mais tarde, o grande cientista Albert Einstein resumiria o pensamento kardeciano nestas poucas palavras:  “A ciência sem a religião é manca;  a religião sem a ciência é cega.”

          Em “O Livro dos Espíritos” (LE), livros I e II, Kardec oferece os princípios básicos do processo evolutivo, cujas linhas mestras encontram-se melhor definidas em “A Gênese”, caps. X e XI.       Nesta obra, o Mestre de Lyon considera como hipótese para a origem do corpo humano o tronco dos símios, que gerou assim “o último elo da animalidade sobre a terra”.  Mais do que isso, o estudo da Doutrina Espírita nos permite recuar aos primórdios da criação para entendermos como se chegou ao homem na linha do tempo da evolução. 

          Forma-se, assim, uma teoria espírita da evolução, com aquilo que os Espíritos revelaram e que a ciência materialista ignora completamente.  É bem verdade que ainda não estamos em condições de compreender principalmente o começo do processo.  Aliás, como diz o instrutor Calderaro a André Luiz, “não estamos, por enquanto, munidos de suficiente luz para descer com proveito a todos os ângulos do abismo das origens” (No Mundo Maior, 14a. ed., FEB, pág. 60).  Os Espíritos já haviam dito a Kardec que “Deus não permite que tudo seja revelado ao homem, aqui na Terra” (LE, 3a. ed., FEESP, perg. 17).

          A principal vantagem que a Doutrina Espírita apresenta, em relação à ciência positivista, materialista, é que ela considera Deus e o espírito na formulação da sua teoria evolucionista, superando em muito também a versão criacionista judaica do Velho Testamento.  Foi a própria ciência, aliás, que nos ajudou a entender melhor a alegoria mosaica, representada pelos 6 dias da criação, dias que, na verdade, representam grandes eras geológicas.  Vamos, então, à teoria espírita da evolução.

          Para nós, tudo começa em Deus, “causa primeira de todas as coisas”, conforme nos ensina Kardec (LE, perg. n. 1).  “Tudo foi criado, exceto Deus”, diz o Espírito São Luiz, em “O Livro dos Médiuns” (2a. Parte, cap. IV, item 74, n. 2).  Que coisas são essas que Deus “causou”, ou mais propriamente criou?  Dois elementos substanciais:  espírito e matéria (LE, perg. 27).  Eles representam a obra da criação e estão por toda parte, formando o Universo.  São elementos distintos, de natureza diversa, que não se confundem, não se misturam, não se reduzem um ao outro:  espírito é espírito, matéria é matéria.  O espírito é o elemento ativo; a matéria, o passivo.  O espírito age, a matéria reage.  O espírito é o agente, a matéria, o paciente.  O espírito concebe as formas, a matéria as adota.

          O espírito é o princípio inteligente do Universo, fonte primordial de toda a inteligência criada.  Dessa fonte partem as individualidades espirituais rumo à perfeição.  Como se dá essa individuação, não se sabe;  é um dos mistérios de Deus.  O fato é que o princípio inteligente individuado é o elemento que evolui, passando por inúmeras etapas, através das quais desenvolve o seu potencial divino para chegar ao seu fim último.  “O Criador começa, e a criatura acaba a criação de si própria”, disse o genial Ruy Barbosa, na sua extraordinária “Oração aos Moços”.

          Neste passo, vem-nos à mente a conhecida frase, sempre atribuída a Léon Denis, de que o princípio inteligente “dorme no mineral;  sonha no vegetal;  agita-se no animal;  e desperta no homem”, contida em “O Problema do Ser, do Destino e da Dor” em forma ligeiramente diferente.  Kardec, na Introdução de “O Livro dos Espíritos”, item XVII, último parágrafo, assim o define:  “Se observamos a série dos seres percebemos que eles formam uma cadeia sem solução de continuidade, desde a matéria bruta até o homem mais inteligente.”

          Certamente, Kardec estava se referindo aqui à série dos seres que formam a Natureza terrena.  Todavia, podemos ampliar esse conceito dizendo que a tal cadeia começa na matéria bruta para terminar no anjo.  É assim que o princípio inteligente transita pelos reinos da Natureza, aperfeiçoando o seu corpo perispiritual e, em consequência, também o seu corpo de matéria densa, até chegar a ser Espírito (LE, perg. 607ª.) e passar a encarnar como homem, daí para a frente, sem nunca retroceder no seu processo de desenvolvimento.

          Que benefícios recolhe o princípio inteligente ao concluir cada fase, ao passar de um reino a outro?  Di-lo Herculano Pires, em “Agonia das Religiões”, cap. XIII:  “o poder estruturador no reino mineral, a sensibilidade no vegetal, a motilidade no animal, o pensamento produtivo no homem.”  A Natureza não dá saltos, como já se disse, e o curso através de cada uma dessas instâncias existenciais é obrigatório, ou seja, faz parte do aprendizado do ser, como cada uma das fases de desenvolvimento do homem:  a infância, a mocidade, a madureza e a velhice.

          Por outro lado, na Natureza não há transições bruscas;  elas acontecem gradualmente.  Entre um reino e outro há sempre algum elemento-ponte, uma espécie limítrofe, que serve aos propósitos da evolução.  Ele geralmente traz em si características do reino anterior e do reino posterior.  É assim que, na fronteira entre o reino mineral e o reino vegetal, identificamos o cristal como elemento-ponte;  entre o vegetal e o animal, as plantas insetívoras (antes chamadas “carnívoras”);  e entre o animal e o homem, os símios (e mais especificamente o chimpanzé).  Esses seres são uma coisa ainda, e já são a outra, a um só tempo.

          A interação do princípio inteligente com o elemento material é mais visível no homem e nos animais, em razão da sua individualidade.  Nos vegetais, que possuem sensibilidade e manifestam sensações, a presença do princípio inteligente apresenta alguma visibilidade.  O problema que povoa a mente de muitos estudiosos da Doutrina está em entender como é que se dá o estágio no reino mineral, já que se trata da matéria inorgânica, inerte.  Há alguns espíritas que até rejeitam categoricamente essa hipótese, entendendo que tudo começa no reino vegetal, já que no mineral não há vida.  Penso que cabe uma reflexão mais profunda a respeito.

          O Espírito da Verdade foi enfático ao afirmar:  “Tudo se encadeia na Natureza, por liames que não podeis ainda perceber, e as coisas aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais chegará a compreender, no seu estado atual” (LE, perg. 604).  Ora, se tudo se encadeia, porque o princípio inteligente saltaria o reino mineral no início das suas existências junto à matéria densa?  Não havendo nada inexplicável no Universo,  o que pode acontecer é não termos a explicação de uma coisa no momento presente.  Certamente, vamos dar com ela mais adiante.

          São seres que se tocam, formando uma cadeia de vida, sem fim e sem nenhum elo perdido, tendo como fio condutor o princípio inteligente.  Por isso mesmo, Herculano Pires também nos ensina que “vivemos em espírito e pelo espírito, desde a pedra até o anjo” (“Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas, 3ª. Ed., 1988, pág. 124).  O que podemos dizer, talvez, é que, no primeiro estágio junto à matéria densa, no elemento mineral, a ligação ainda é extremamente tênue, pífia, frágil.  É mais uma aproximação do que uma penetração.  De fato, não faz sentido pensar que vamos encontrar o princípio inteligente incrustrado numa rocha.  Mas, recebendo as sensações emitidas pela matéria condensada, ele inicia ali o seu aprendizado com toda a certeza.

          Assim é que o princípio inteligente individuado transita, no carreiro palingenésico, de reino em reino, em cada qual assimilando características peculiares, sem jamais se separar completamente do princípio inteligente universal, de que é legítima individuação (LE, perg. 79).  Uma análise mais objetiva de cada unidade desses espécimes revela-nos a presença iniludível da inteligência a dirigir cada contorno seu, cada uma de suas linhas...  Ou a simetria das formas e a beleza dos seus arranjos decorrem única e exclusivamente da lei de atração, isto é, das propriedades da matéria?  Ou ainda:  é tudo obra do acaso?

          Em verdade, o ser integral surgirá na linha da evolução, no reino hominal, onde o pensamento contínuo desponta e o ser inteligente da criação, por si mesmo, adquire a pouco e pouco autonomia.  O Espírito, então, desperta no homem, após o longo caminho percorrido nos reinos inferiores da Natureza, “numa série de existências que precedem o período que chamais de Humanidade” (LE, perg. 607).  É como um nascimento de “parto natural”, já que esse é o processo imperativo da lei divina.

          Mas, enquanto nos reinos inferiores prevalece o princípio da indiferenciação, ou seja, da similitude de comportamentos entre todos os seres de uma mesma espécie, com o advento da espécie humana começa uma nova etapa de desenvolvimento, onde cada indivíduo passa a distinguir-se dos demais, em razão da sua liberdade de agir e do maior ou menor proveito das suas vivências.  Não mais a igualdade, pois, mas agora a semelhança.  É o reino da racionalidade, da consciência de si mesmo e do meio, da liberdade de escolha e da responsabilidade.  E é nesta fase também que vai aflorar a mediunidade.

          No período pré-humano, não há erro nem perda, pois os seres desse período são monitorados por inteligências superiores, que dirigem e controlam o seu existir, provendo-lhes as necessidades básicas.  O tempo, por sua vez, flui aí naturalmente, não havendo nada que os retenha, nem os faça retardar-se.  A roda dos acontecimentos percorre caminho certo, sem desvios, na trilha da evolução.  Os seres marcham com rota previamente marcada;  somente quando puderem caminhar livremente, traçarão por si mesmos o roteiro que desejem seguir, e então serão responsáveis por seus destinos.

          É assim que a evolução, do ponto de vista da lei divina, desenvolve-se em ritmo cadenciado.  O princípio inteligente, um verdadeiro ser in itinere transita de experiência em experiência, adensando seu modo de agir na matéria, com o mapa da perfectibilidade aberto à sua frente.  Suas primeiras experiências são um pré-estágio, comparável, no período de humanidade, à pré-escola, em que o ser se ensaia na formação do seu conhecimento.

          Ao atingir a racionalidade, encerra-se para ele uma longa etapa do seu desenvolvimento, cuja memória jamais poderá acessar:  “quanto às primeiras existências, as que se podem considerar como a infância do Espírito, perdem-se no vazio e desaparecem na noite do esquecimento” (LE, perg. 308).  O que vale também para as primeiras existências como homem, onde podemos situar o ser simples e ignorante da criação.  Tendo estagiado até ali nos reinos inferiores da Natureza, cerram-se para ele, “definitivamente”, as cortinas do passado.  Uma singular transformação o introduz em novo e mais rico espetáculo.  Nessa longa andança, de santiâmen a santiâmen, soube assimilar valores fundamentais da estrutura do existir e desenvolveu umas tantas potencialidades.  Agora, é Espírito e caminha para a responsabilidade.

          A partir daí, florações insuperáveis advirão, porque o princípio inteligente individuado agora é o Espírito, produto da sua evolução, perfectível e imortal.  Suas existências pré-humanas, na retorta do processo evolutivo, da mesma forma, restarão indefiníveis, mas insepultas nas profundezas insondáveis do ser, num mundo incógnito e misterioso.  Registros inúteis, então?  Absolutamente não...  As conquistas primeiras servir-lhe-ão de bússola na nova Instância Existencial que se descortina.  E a cada nova encarnação, ao iniciar-se a formação do corpo carnal, repetirá em rápidos movimentos aqueles primeiros passos na linha da filogênese.

          Durante aqueles estágios primevos, o princípio inteligente realiza tudo o  que lhe é necessário e útil, relativamente a cada reino, pois que ele é dirigido por um guia preciso e infalível:  a lei natural, que tudo conduz, e da qual nenhum detalhe escapole, nenhum item se omite.  O comboio do tempo, nestas paragens, não atrasa, nem descarrila, mas chega a cada estação com a precisão que o caracteriza, obediente ao ritmo harmonioso da mecânica celeste.  Todos desembarcam em iguais condições de desenvolvimento potencial e padrão vibratório ao final de cada etapa da viagem.

          Finalmente, chega ele ao estágio derradeiro:  na ribalta, o ser humano.  O princípio inteligente, que estagiou nas Instâncias Existenciais dos reinos inferiores da Natureza, após assimilar as características básicas inerentes a cada reino, agora é Espírito e como tal vai surgir no cenário planetário nas condições humanas mais primitivas, envergando um corpo animal que em nada difere do corpo de alguns símios.  É o homo habilis que toma assento entre os viventes, já manifestando algumas poucas características humanas.  Suas faculdades distintivas  - o pensamento contínuo, a racionalidade, a consciência de si mesmo e do meio ambiente, a memória, o sentimento, a religiosidade e a mediunidade -  desabrocharão pouco a pouco, enquanto desfilam pelo palco do mundo, na sequência, o homo erectus, o homo sapiens e o homo sapiens sapiens.

          Era, então, o homem diferenciando-se do animal;  era um homem diferenciando-se de outro homem;  era o princípio inteligente em outro e mais espetacular estágio de evolução.  Agora, mais determinado e mais atuante, pelo pensamento e pela vontade.  Agora, finalmente, Espírito, na aurora da racionalidade, na rota da angelitude...  Esse ser demandará a perfeição cada vez mais consciente de si mesmo, passando pela infância, pela adolescência, pela juventude e pela maturidade espiritual.  Enquanto o elemento material, ao fim de cada ciclo, volta ao todo indiferenciado, como o rio que mergulha suas águas no oceano imenso, o ser espiritual é cada vez mais individualizado, cada vez mais ele mesmo, em marcha crescente e ascendente.

          Portanto, depois de todo o exercitamento do princípio inteligente nos reinos sub-humanos, agora temos Espíritos inaugurando o reino hominal, embora continuemos tendo outros princípios inteligentes agindo nos reinos mineral, vegetal e animal, em número inimaginável.  Nada de seres lendários, fantasiosos, fictícios;  nada de duendes, diabretes, gnomos ou trasgos;  nada de fadas, sereias ou deuses;  nada de anjos ou demônios.  Nesse panthéon só há Espíritos, ou princípios inteligentes, e nada mais.

          Concluindo esta extraordinária saga, que descreve em linhas gerais a história de cada um de nós, muito além do darwinismo, lembramos Emmanuel, com seu pensamento de luz:  “De milênios remotos, viemos todos nós, em pesados avatares.  Da noite dos grandes princípios, ainda insondável para nós, emergimos para o concerto da vida...” (F.C. Xavier, “Emmanuel”).

domingo, 7 de agosto de 2011

Quem somos.

O Solidarity Spiritist Society é uma entidade espírita criada para o estudo doutrinário, embasado nas obras de Allan Kardec, a assistência espiritual, consubstanciada no passe, e a prática da caridade.
            Reunimo-nos às quintas-feiras, das 6:45 às 8:00 p.m.  A Casa abre às 6:00 p.m., entretanto.  Temos uma pessoa encarregada de recepcionar as pessoas na porta de entrada e para eventuais informações ou encaminhamento.
            Durante as reuniões, estuda-se O Livro dos Espíritos e, uma vez por mês, há uma palestra com expositor convidado.
            As reuniões de estudos são sempre realizadas em língua portuguesa e em língua inglesa, em salas distintas, mas no mesmo horário.
            Após a reunião de estudos, há uma palestra evangélica, de 15 minutos, e finalmente o passe, que não é obrigatório, mas recomendamos sempre.
            Também temos o Atendimento Fraterno, com uma pessoa encarregada de ouvir pessoas que nos procuram com qualquer tipo de problema e que desejam ter uma orientação doutrinária a respeito.
            No período das 8:25 às 9:45 p.m., damos um curso, que neste ano é de Pedagogia Espírita, enquanto, paralelamente, realiza-se um curso Mediúnico, em inglês, numa outra sala. 
            Às quartas-feiras, damos dois cursos, simultaneamente, no horário das 7:00 às 9:00 p.m.  Inscrições são feitas sem qualquer taxa.
            Temos uma livraria, com muitos títulos à venda, e uma biblioteca de livros usados, para empréstimo a título gratuito.
            As nossas reuniões e cursos são sempre realizados em clima fraterno, alegre e respeitoso, e são todos bem-vindos ao nosso convívio.

O QUE É ESPIRITISMO?

É o conjunto de princípios e leis, revelados pelos Espíritos Superiores, contidos nas obras de Allan Kardec que constituem a Codificação Espírita: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.
“O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.” Allan Kardec (O que é o Espiritismo – Preâmbulo)
“O Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.” Allan Kardec (O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. VI – 4).
O QUE REVELA:
Revela conceitos novos e mais aprofundados a respeito de Deus, do Universo, dos Homens, dos Espíritos e das Leis que regem a vida.
Revela, ainda, o que somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o objetivo da nossa existência e qual a razão da dor e do sofrimento. 
SUA ABRANGÊNCIA: 
Trazendo conceitos novos sobre o homem e tudo o que o cerca, o Espiritismo toca em todas as áreas do conhecimento, das atividades e do comportamento humanos, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.
Pode e deve ser estudado, analisado e praticado em todos os aspectos fundamentais da vida, tais como: científico, filosófico, religioso, ético, moral, educacional, social.
SEUS ENSINOS FUNDAMENTAIS: 
Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
O Universo é criação de Deus. Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais. 
Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados. 
No Universo há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus de evolução: iguais, mais evoluídos e menos evoluídos que os homens. 
Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais. 
O homem é um Espírito encarnado em um corpo material. O perispírito é o corpo semimaterial que une o Espírito ao corpo material. 
Os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo. 
Os Espíritos são criados simples e ignorantes. Evoluem, intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade. 
Os Espíritos preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação. 
Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento. 
Os Espíritos evoluem sempre. Em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição. 
Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado: Espíritos Puros, que atingiram a perfeição máxima; Bons Espíritos, nos quais o desejo do bem é o que predomina; Espíritos Imperfeitos, caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões inferiores. 
As relações dos Espíritos com os homens são constantes e sempre existiram. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, sustentam-nos nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os imperfeitos nos induzem ao erro. 
Jesus é o guia e modelo para toda a Humanidade. E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus. 
A moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade. 
O homem tem o livre-arbítrio para agir, mas responde pelas conseqüências de suas ações. 
A vida futura reserva aos homens penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus. 
A prece é um ato de adoração a Deus. Está na lei natural e é o resultado de um sentimento inato no homem, assim como é inata a idéia da existência do Criador. 
A prece torna melhor o homem. Aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo. é este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade. (Fonte: FEB e SobreSites)